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eu te comecei inteira, integra de todos os sentimentos – de todas as palavras cheias, de todas as conversas sem reticências, com linhas tortas, com letras trocadas, recusando diagnósticos, revisitando afeto, mentindo além do desejado, porém, no meio do processo me fui tirada de mim, e só restou o caco do espelho me refletindo pela metade. nem a madrasta que não refletia teve esse desprezo. falei muito por muito tempo, depois veio a escassez de história, de amor, de tesão e final mente, fiquei eu. mas a verdade que não era bom falar de mim, mas sim de doer. te comecei no desespero, buscando reconectar algo aqui dentro, em meio as feridas fui tentando arranhar a escrita, e por um tempo isso deu certo, não precisei mais me tatuar para saber que ainda tinha sangue correndo em mim. voltei para falar dos casamentos, dos desencontros, dos mais velhos, do espelho falante, sou teimosa insisto em tentar. hoje já tem outras dores, outras securas, mas como disse ao espelho, não cabe am...

[ d o r e s ]

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então é isso? escutei sobre o namoro, dos mesmo gostos, soube da alegria, mas o pedido me chegou tão dolorido, era óbvio que ia se dar em casamento, e nem é isso que dói, que arde. é saber que não vou te dar parabéns, porque nem amizade cabe nesse abismo que até ontem pensei que tinha sido construído por mim, mas você também fez questão dele existir.  to aqui passando tantas cenas na memória, da primeira vez que te vi, da primeira vez que meu coração acelerou, do cheiro que o dia tinha, da cor da sua roupa, do seus dentes tortos, de você eu me lembro de cada falha, de cada pedaço inteiro. se eu acreditasse na vida passada, diria que nos trombamos, mas que azedou, que não deu conta e que hoje, que nessa vida agora, você não se deu conta de me reconhecer como amor de alma. porque em mim, ainda cabe amor, mesmo negando, mesmo doendo, endurece o coração, não quis falar mais de você, porque quis que ao menos uma vez na vida, você lutasse por mim. essa é a história de meninas abandonadas...

[ destroços ]

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Estou me juntando - é dessa forma mesmo que pensou, catando os pedaços, dando corpo para o que restou - para o que não ficou estilhaçado no reflexo do espelho, taquei tantas verdades nele que não teve meio de suportar tanto passado.  Em meio aos cacos, rimos - para disfarçar o gosto de sal que as lágrimas deixaram, para ser superior até nesse destempero, sim, não quero dar o braço a torcer, chega de dor em mim, basta de ter meu corpo como instrumento de correção. Fui boazinha desde o útero - não chutava, não dava trabalho, saí dele, nem mamei no peito, não chorava, me deixava em um lugar e lá ficava - nunca dei preocupação, sempre fui contida. Cresci com peso, e não é do corpo que estou me referindo. E, mesmo espatifado no chão, o espelho me retrucou: - Se serve de incentivo, o chão não é o fim. Capitu. 

[ mastigar ]

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  Tem pedaços seus em mim, como aquelas tortas de chocolate em que as pessoas insistem em colocar nozes e, mesmo esmagando, ainda conseguimos sentir e morder — aquelas mordidas que doem até a carne do dente. Não é fácil, e muito menos tranquilo, deixar de amar alguém. É um tempo interminável que, para quem está de fora, parece durar dias — talvez algumas semanas — ou, dependendo do grau de afeto que essa pessoa tenha por quem sofre, apenas um tempo. Esse sentir — mastigar — dói. É aquele esforço a mais que pedem no trabalho e que, por mais gás que se tenha, não se consegue dar conta de concluir. É um amar amargo, passado, que não há como engolir. A dor de garganta chegou — claro, no momento mais apropriado: justamente quando preciso fazer as malas emocionais e desaparecer da sua vida. Não tenho semanas, como qualquer pessoa normal teria. Tenho segundos. Preciso evacuar a tua presença de mim — ou seria o contrário? Como se tira alguém que, de fato, nunca entrou, mas deixa a sensação...

[ vazia é vão ]

 - eu queria te dizer olá, ou talvez um bom tapa na cara, é, um bom tapa na cara!  sinto falta de mim as vezes, falta da minha canalhice, é o que sou, canalha, puta, no melhor do seu significado, aquela que goza com vontade mesmo na dor da vida!  a você que eu amei com as pernas, tchau!  Capitu. 

[ e n d e r e ç o s ]

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esses dias passei perto do seu bar, eu só soube que era sei pelo nome, pelo design que conversamos um dia, por todas as ideias que você sugou de mim e compartilhou com ela, sim, estou aqui voltando nessa história que nunca teve nada de verdade. pelo menos da sua parte.  quero amar sabe, não com dor, não com angustia, nada escondido, quero amar, me aguar em alguém, seca nunca combinou comigo, eu sou gente faminta, eu sou gulosa!  quando eu vou finalmente poder garfar com gosto o amor?!  Capitu! 

[ v e r m e l h o ]

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eu to bem aquela musica do Chico, cotidiano, mas sem companhia na cama, pareço disco riscado que não tem jeito, que mesmo que limpe, continua arranhando, porque já perdeu todo o tesão em tocar na sua vitrola.  quero passar batom vermelho, aquele que marca tudo, que deixa rastro, que mostra que teve gente naquele lugar, ir marcando sem nenhuma dó, que se dane que sujou o sofá novo, existe água pra que?  essa pandemia está tirando a vida que toda pessoa sem vergonha gosta de viver, quero balcão de boteco falido, quero doses  e mais doses de tequila, quero esbarrar em gente e pedir desculpa sorrindo, quero gostar de alguém. Capitu.