bossanovaetentações

as cortinas daqui são tão brancas que dariam inveja a minha mãe, vou tocando elas com as pontas dos dedos, passeando pelo vãos, como fazia quando era pequena na casa da minha vozinha, vou percorrendo cada canto, roendo as unhas, esperando ... eu não me importo de esperar... e ele surra no meu ouvido: - e se eu tirar sua roupa aqui. - eu não vivo de hipótese, eu vivo de certeza. e ali na claridade das cortinas ele tirou minha roupa, meu juízo, minha inocência, tirou meu folego, tirou meu pudor. Capitu. 

Você me tirou tudo. tudo. tudo. você me despedaçou, me esmagou como quem esmaga barata em banheiro público, eu to aqui ainda sem saber por onde começar, por que você seu bosta me tirou tudo, me tirou chão, me tirou prazer, me tirou eu. agora você faz planos de casamento, faz planos, diz eu te amo. Quantas vezes eu fiquei agonizando esperando você dizer que ao menos se importava comigo, eu te ódio, por tudo que me tornou, te odeio, e não vou ser boa crista e lhe desejar coisas boas quero que você arda no inferno. Quem sabe o diabo tenha compaixão de você, já que você não teve nenhuma comigo. Eu to seca, as lagrimas nem umedecem mais meu rosto como antes, seu tivesse mais uma chance de lhe ver querido, eu lhe enfiara uma faca no peito e lhe deixaria jorrando por ai, é o que tenho feito nesses últimos três anos, jorrando dor por ai. Eu lhe daria uma surra, mandaria você a merda. mas lá no fundo eu saberia que isso não diminuiria porra nenhuma dentro de mim. nada. nadinha. eu to

- você deveria ter mais cuidado, ficar aceitando esses presentes, ficar aceitando os jantares, onde você vai parar? Questiona Sabrina, dou um sorriso a ela e vou me arrumando, pra falar a verdade não quero saber onde isso dará. não quero ter hora pra volta, não quero ter que dar desculpas, esconder marcas, desta vez eu só quero. eu só quero. eu só estou fazendo o que eu sempre faço, matando minha fome. Capitu. 

- eu não vou perde meu tempo com conversas Capitu, somos adultos. Eu quero você, e não é do jeito romântico que os mocinhos querem, eu te quero com pele, com tudo que tenho direito, e o que você me diz? Cruzo minhas pernas, levanto a taça de champanhe, levanto, e vou andando até ele, a gravata escura, a camisa clara, o terno deixado no começo da mesa de madeira clara vai tornando tudo tão mais quente, molho meus lábios e sem nenhum medo digo . - eu quero seus dedos cravando minha pele. eu te quero. Capitu. 

- eu vou te falar uma coisa, digo eu balançando sobre minhas pernas com minha garrafa colada no corpo. – se eu amei nessa vida? Muito, se me amaram? Nunca. Estou andando em cordas frouxas ha muito tempo, tenho andado em cacos desde sempre, essa sou eu, amando desvairadamente enquanto os outros seguem suas vidas normalmente. vou te dizer uma coisa, maldita a hora quando nos apaixonamos. puxo a cadeira mais longe, sirvo mais uma dose, engulo ela quente mesmo, quero essa sensação de queimar, essa ardência que me impulsiona a viver melhor. - a única coisa que posso dizer, é que me faltam pedaços, me faltam memorias boas, se um dia o amor foi bom pra mim se perdeu nas minhas bebedeiras, nas minhas tentativas de me sentir bem, se perdeu, eu amei, amo, a minha vergonha é essa. a minha doença é amar. Capitu. 

se você veio até aqui é porque de alguma forma sente saudades de mim, da minha falta de educação na mesa, do meu desespero em te despir, de alguma forma você senti falta dos meus destemperos, da minha insanidade emocional, você sente falta. e o seu desespero em mostrar que não é bem assim torna a brincadeira muito mais divertida, cá estou em pleno sol das quatro degustando minha vodka, numa piscina gelada e você aí vestindo seu terno escuro, sabe meu bem, se você tivesse mais traquejo a falar... se você ao menos tivesse mais fome de mim, quem sabe eu mordia sua carne após esquentar meu corpo nesse sol. Capitu.