[ queimaduras]


- a verdade é que pouco sei da gente, vasculho aqui na mente, tento achar aqui na minhas caixas qualquer coisa que nos lembre, fico tentando recuperar coisas que sei que nunca aconteceram, tento encaixar você em caminhos meus, eu te amo, e te odeio na mesma frequência, engraçado como coloquei tanta energia nessa cama, nessa sua barba falha, nessa sua sobrancelha grossa, engraçado como coloquei tanta vida na sua falsa presença, eu ainda estou queimando, verdade é que você nunca me deixou sair, eu nunca quis sair, mas eu preciso e desejo sair, mas sair pra onde, é o que sempre me questiono, sair pra que, encontrar quem, viver no que, fazer o que ?! São três anos assim, soprando vida, são três anos esperando que alguém me coloque na parede, me compre coisas baratas, me embebeda, são três anos aguando amor, porque eu amava a suas mentiras, porque eu amava a dor que você sempre me causava, porque era só você chupa meu pescoço, era só você me esmagar no seu corpo que tudo se resolvia, era só você estar que as coisas se resolviam, era só você RESPIRAR em mim que as coisas voltavam

 é essa sou eu, aqui segurando mais uma vez garrafa de tequila queimando o que você deixou aqui, parece que nenhuma pessoa vai me trazer de volta, parece que ninguém vai me trazer, você tirou meu chão, tirou minha casa, tirou minha fé você acabou comigo, to pisando em vidros, sangrando a carne, tentando ter um pouco de lucidez aqui, apenas tentando me curar, mas parece que a gente nunca se cura de fato, a gente aprendi a viver , então pode ser que eu seja uma masoquista, é masoquista, talvez eu esteja lhe desejando mais do que antes, talvez eu queira você na minha nuca, pegando em mim, me comendo literalmente, talvez eu queria você debochada, gozando em mim, talvez só talvez eu queria tudo isso de novo, toda dor, todo vazio, talvez, só talvez eu te ame e odeio mais do que imaginei, talvez só talvez você me deve essa, talvez, só talvez eu é que perdi os caminhos.

Capitu. 

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Estou me juntando - é dessa forma mesmo que pensou, catando os pedaços, dando corpo para o que restou - para o que não ficou estilhaçado no reflexo do espelho, taquei tantas verdades nele que não teve meio de suportar tanto passado.  Em meio aos cacos, rimos - para disfarçar o gosto de sal que as lágrimas deixaram, para ser superior até nesse destempero, sim, não quero dar o braço a torcer, chega de dor em mim, basta de ter meu corpo como instrumento de correção. Fui boazinha desde o útero - não chutava, não dava trabalho, saí dele, nem mamei no peito, não chorava, me deixava em um lugar e lá ficava - nunca dei preocupação, sempre fui contida. Cresci com peso, e não é do corpo que estou me referindo. E, mesmo espatifado no chão, o espelho me retrucou: - Se serve de incentivo, o chão não é o fim. Capitu. 
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