[ carta aberta ]
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quis por muito tempo resgatar sensações, sorrisos, abraços, cheiros, dizem que
tem haver com meu signo teimoso que adora guardar o que já é gasto, mas vai
além dessa teimosia era medo de conquistar novos cômodos, pois cômodos novos a
gente não sabe andar, desculpa, eu não sei andar, to colocando muita gente
nessas linhas, assim não falo sozinha, assim não parece que só eu estou empacada,
quando é novo tropeço, fico sem jeito, peço desculpas, sou forasteira, no
decorrer de mim conheci pessoas que quis carregar na pele, sabe quando você
pega aquela caneta no meio da aula chata e fica se rabiscando, desejando ter
idade pra torna tudo aquilo real, mas aí tem o banho quente e a tinta escorre
no ralo, era isso, queria ter escrito nomes, planos, desejos, quebra pau imaginário,
queria ter escrito cada detalhe, toda essa bagagem, toda essa andança tem
acabado com meu folego, ando com elas em dia quente, sem água na reserva e vou
indo e quando chego à esquina pareço àquelas pessoas que nunca fizeram uma
caminhada, já rasguei diário, foto, fingi que não dei que não beijei, não
mordi, conheci gente nova, o moço novo, a garota sorridente, tentei seduzir,
sorrir, morde canto da boca, estou sem pratica, sem desejo, quero arde, beber
pra esquecer, lembrar, comer, transar, quero tudo isso e não quero tudo isso, e
quando não se tem firmeza o desespero toma conta e lá ia eu, resgatar mofos/
estou em re-construção, em obras, quebrada aqui, empoeirada ali, vazia ali onde
ficava a cômoda nossa, esses dias esbarrei em mim no espelho, não tinha batom
vermelho, não tinha furo no nariz, brinco grande, decote, boca apimentada, não
tinha nada meu ali, isso aqui nem de longe é um tratado de paz, um novo
contrato, chega de promessas, de resoluções, de listinha caseira, c h e g a , meu corpo quer ação, quer canseira
nova, boca mordida, minha pele quer rabisco novo, meus olhos querem novos
borrões, essa sou eu me pegando de volta.
Capitu.