A mãe de todos os desavergonhados



- quando era pequena tinha pavor de tudo escuro, minha mãe tinha que deixar acesso o abajur, pois sempre tive medo da escuridão que vinha com a palavra noite,

com o tempo aprendi que é de noite que a vida acontece que é de noite que deixamos de lado nossos pudores e nossa vergonha da nudez alheia, e da nossa nudez, não digo só de corpo, digo do que vestimos todos os dias, digo da nossa essência

É a noite que as coisas ficam mais claras, olha que ironia.

Eu gosto da noite, ela oferta mais, mesmo tendo portas fechadas, janelas camufladas, ela sempre oferece mais, ela sempre me entende, a noite não carrega porquês e nem melindres, ela carrega a clandestinidade-desassoge-semvergonhice-canalhice, a noite carrega tanta gente descalça de alma, tanta gente puta, a noite carrega verdades.

De noite a gente se veste de gente, se veste de cumplicidade, quando ando de carro na noite abro meus vidros e vejo as pessoas passarem a mão uma nas outras sem medo, sem pudor, na noite mora gente bem resolvida, ela tem seus dramas, ela tem berros, gente bebendo, fumando se masturbando eu penso que é de noite que todos nossos monstros saem,

que de noite que eles vivem bem, dançam bem e brincam melhor e mesmo ela carregando todo esse drama, ela me veste tão bem

A noite é a melhor mãe pra quem não tem vergonha de si.

Contribuição: Corrente Literária : O que a noite nos reserva
da  moça bonita 

Comentários

Anônimo disse…
muito lindo o que escreveste especialmente a forma como escreveste;

és uma querida*

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